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Caminho percorrido

Filho de raizeiro e curandeira nordestinos, Jorge têm a mata como refugio desde pequeno onde aprendeu apreciar o silêncio e mergulhar com a alma em todo pequeno ecossistema. Também conhecido como Forager por suas habilidades de explorar e coletar a natureza selvagem, herdou da família o amor e o cuidado pela terra e aprendeu desde cedo a viver em comunhão com a floresta. Seu espírito observador e sua curiosidade o levaram a estudar e pesquisar, de forma autodidata, sobre a biodiversidade na Mata Atlântica, principalmente, plantas e cogumelos com potencial gastronômico e medicinal.

De vida autônoma há mais de 15 anos, é consultor ambiental, gastronômico, farmacêutico e cosmetólogo. Envolvido com pesquisadores como Nelson Menolli Jr. e Mariana Drewinski, ONGs e projetos ambientas, estrutura inventários florestais e florísticos mapeando a biodiversidade local, projeta e implementa sistemas agroflorestais com objetivo de enriquecer o solo e valorizar a relação homem-natureza. Dedica-se também à propagação de ingredientes brasileiros e ao resgate cultural gastronômico, construindo a sua história ao lado de Chefs como Ana Bueno, Bel Coelho, Henrique Gilberto e Léo Botto.

Fez intercâmbio na Inglaterra, na empresa Forager Ltd., especializada em coleta e comercialização de plantas selvagens e já palestrou em eventos como FRU.TO, Viva a Mata da Fundação Mata Atlântica e Sessão C5 do Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo ao lado de grandes referências como o pesquisador e especialista em fungos, Marcelo Sulzbacher, da pesquisadora Mariana Capelari e do chef Alex Atala, onde explanou sobre a biodiversidade alimentícia da Mata Atlântica e seu potencial gastronômico.

Como polinizador destes conhecimentos, ministra oficinas, cursos e vivências sobre educação ambiental, cogumelos, plantas alimentícias não convencionais (PANCs) e sistemas agroflorestais para adultos e crianças além de promover expedições individuais e em grupos pela Mata Atlântica.

Ser e estar na natureza

A minha vida inteira foi acordar e, pela luz do dia, entender o que deveria fazer: se faz sol, vou capinar; se chove, vou limpar o bananal; se estou sem coragem, vou andar na mata e observar pássaros. Acho que esse é o projeto de minha vida, é quando meu coração fica mais feliz, quando posso tomar a decisão orgânica para meu dia…

Sou Jorge Alves da Silva Ferreira, filho de nordestinos.

Meu pai, José Ferreira, e minha mãe, Carmelita, são nascidos e criados em Pernambuco, filhos de agricultores, e há 30 anos migraram para o Rio de Janeiro, Cabo Frio, onde eu nasci.

Depois de uma tentativa de retorno para o nordeste, decidiram voltar para o RJ, só que dessa vez para Paraty… Lugar que meu pai já conhecia, pois ia para passear e era apaixonado por lá.

Nessa volta, minha família se instalou no Sítio São José, propriedade que meu pai comprou pois sempre teve o sonho de criar os filhos dentro desse universo da produção de alimentos. Eu tinha 5 anos de idade e meus dois irmãos eram mais novos.

Nossa casa ficava a quase 3 km de distância da parte urbana e era preciso andar numa trilha dentro da Mata Atlântica. Por estar distante, não fui à escola, sendo alfabetizado pela minha mãe. Acompanhava meu pai no dia a dia das suas atividades, plantando banana, inhame, milho, e acompanhei todo o processo da agricultura de base familiar.

Fui criado comendo tapioca, biju, farinha… Tudo produzido ali mesmo e por nós. 

Foi depois de uma crise financeira, principalmente relacionada com a dificuldade de escoamento dos produtos, que meu pai teve contato com um tipo de agricultura diferente, a agroflorestal. Passamos de produzir focado no comércio para escolher o quê e como cultivar, de maneira mais harmônica com a floresta e com maior autossuficiência. 

De Jorge Ferreira a Jorge Forager

Foi nessa época que meu olhar para a natureza se aguçou ainda mais e fui criando uma nova relação com meu entorno. Eu comecei a buscar na floresta espécies que eram interessantes para nossa alimentação e sem saber estava entrando no universo do forager, de coletar na natureza. Aprendi na prática sobre as PANCs e plantas medicinais – aliás, muitas vezes o alimento e a medicina são a mesma coisa. Como eu já tinha interesse em botânica (naquela época nem sabia que se chamava assim!), me dediquei a estudar todas as plantas que eu pudesse e me especializei nisso.

A combinação entre sistema agroflorestal, coleta de alimentos na floresta e uso medicinal das plantas foi consolidando em mim uma visão de mundo. Percebi o ser humano como parte integrante da natureza e senti a necessidade de criar outra relação nossa com o entorno, com mais conexão, respeito e sinergia. Vi que podemos estar e nos beneficiar da floresta de maneira sustentável. 

Em qualquer bioma que eu esteja, eu olho ao redor e vejo tantas possibilidades na biodiversidade. Vejo alimento, vejo cura, vejo sabores, vejo pigmentos, vejo odores… E isso que conhecemos apenas uma parte pequena de todo potencial que há na mata! Tudo isso me fascina e me motiva demais. 

Busco sempre estar presente em cada instante, trazendo atenção, intenção e intensidade para minhas ações. Vivenciar e compartilhar sabores, aromas, sensações e conhecimentos. Nesse universo apaixonante, me encontrei e encontrei, não apenas uma profissão, mas uma forma de viver a vida.

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