O nome dele remete aos rituais etílicos da antiguidade. Seu jeito de crescer em círculo faz referência a universos mágicos de fadas e duendes. É ao mesmo tempo delicado e intenso, despertando os sentidos. Envolto em algo de mistério e encantamento, o Lepista Sordida é um cogumelo comestível presente na Mata Atlântica e cheio de potenciais a serem desbravados.
Combinando um aspecto delicado com sabores intensos, o Lepista Sordida atiça a sensorialidade. É um cogumelo suave e gostoso ao toque, especialmente as lamelas – que são a parte inferior do chapéu por onde são dispersados os esporos, responsáveis pela reprodução do fungo.
Para o paladar, traz um gosto intenso e saboroso combinado com textura macia e consistente. Não é fácil definir seu sabor, já que parece remeter a diferentes universos, da floresta ao mar. Importante: antes de provar este cogumelo, é necessário cozinhá-lo. O Lepista Sordida não pode ser comido cru, estado no qual é tóxico. Após passar por algum cozimento – como fervura ou refogado -, as toxinas são eliminadas e ele está pronto para consumo.
Crescendo em cima da serapilheira – aquela camada de material orgânico sobre o solo -, o Lepista Sordida é gregário, ou seja, aparece sempre em grupos. Os diferentes cogumelos podem crescer formando um círculo, conhecido como anel de fada ou de duendes.
A palavra Lepista remete a um tipo de cálice que era utilizado em templos gregos e romanos e faz referência ao formato côncavo do chapéu do cogumelo, que lembra uma taça. Já o termo Sordida tem vários significados e um deles é de sujo, podendo se referir à sua coloração, que costuma ser acinzentada.
A sua cor, aliás, nem sempre é igual nem fácil de definir. Ela apresenta algumas variações, oscilando entre lilás, violeta e branco em tons meio acinzentados. O Lepista Sordida é de pequeno porte, cabe na palma da mão, tem um chapéu de três a dez centímetros de largura e uma estirpe (estrutura similar ao caule) de até dez centímetros de altura.
Além de seu valor gastronômico e nutricional, o Lepista Sordida traz outros atributos. No campo da medicina e farmácia, pesquisas acadêmicas mostram que ele possui compostos com propriedades antibacterianas, antibióticas, antifúngicas e antioxidantes, entre outras. Já na indústria têxtil, pesquisas indicam que seu extrato poderia ser utilizado como um descorante, realizando o tratamento de resíduos poluentes das águas.
Se a biologia e outras ciências conseguem descrever, catalogar e dissecar esse fungo, este conhecimento não é suficiente para acabar com o fascínio que ele pode gerar. Caminhar em meio à biodiversidade da floresta e cruzar com um grupo de cogumelos formando um círculo violeta contrastando com as folhas no solo é uma experiência incrível. O alerta que a cor atrativa pode trazer é rapidamente substituído pela expectativa dos sabores que ele proporciona e que descrição nenhuma dá conta.
Fotos: Jorge Ferreira
Caminhando no Campus Butantã, da Universidade de São Paulo, reduto sobrevivente da Mata Atlântica, deparei-me com vários deles. Fotografei para identificar e, no dia seguinte, quando voltei, tinham passado a roçadeira e não sobrou um único.
Estou com alguns no jardim bem parecidos. Complicado ter certeza se e ele mesmo. Mais confesso que as cores são maravilhosas.
Maristela, duas característica para a identificação da Lepista Sórdida, além das descritas acima é: ao colher se não tiver cuidado o chapéu quebra com muita facilidade, então faça o teste depois de colhido quebrando o chapéu em bandas. O estipe (tipo o caule) ao apertar entre os dedos solta os pedaços com muita facilidade onde você pode nota que não é fibroso.
Muito legal! Já vi esse cogumelo algumas vezes aqui em casa, moro em Brasília, na área rural na região da Fercal. Na próxima vez preparo e como esse cogu 😉
Que privilégio, William! Depois compartilha consoco o preparo!