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Caminho percorrido

Filho de raizeiro e curandeira nordestinos e criado aos pés da Serra da Bocaina em Paraty, Jorge tem a mata como refúgio, escola e santuário desde pequeno. Foi lá que aprendeu a apreciar o silêncio e a mergulhar com a alma e os cinco sentidos em cada ecossistema, dos grandes biomas aos minúsculos fungos. Seu espírito observador e curiosidade o levaram a se aprofundar na biodiversidade da Mata Atlântica, se especializando principalmente em plantas e cogumelos com potencial gastronômico e medicinal.

Transitando entre os universos de agricultor, coletor, pesquisador e disseminador de conhecimentos, Jorge atua como consultor ambiental, gastronômico, farmacêutico e cosmetólogo. As atividades são sempre orientadas para aproveitar o potencial da biodiversidade de maneira sustentável, enriquecer o solo e valorizar a relação ser humano-natureza.  Entre as ações desenvolvidas estão conceber e implementar sistemas agroflorestais, estruturar inventários florestais e florísticos, e assessorar projetos ambientais. 

Outro universo de atuação é o de pesquisa e assessoria para utilização do potencial gastronômico e medicinal da floresta. Jorge dedica-se à divulgação de ingredientes brasileiros e ao resgate cultural gastronômico, construindo a sua trajetória ao lado de agricultores familiares, caiçaras, povos tradicionais e chefs brasileiros. Além disso, desbrava o universo dos cogumelos silvestres ao lado de grandes pesquisadores.

A partir da certeza de que é necessário conhecer para preservar, Jorge atua como polinizador de tudo que aprendeu. Oficinas, cursos, palestras, vivências e expedições na floresta são alguns dos caminhos ofertados para adultos e crianças que queiram conhecer mais sobre biodiversidade, educação ambiental, cogumelos, Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e sistemas agroflorestais.

Ser e estar na natureza

A minha vida inteira foi acordar e, pela luz do dia, entender o que deveria fazer: se faz sol, vou capinar; se chove, vou limpar o bananal; se estou sem coragem, vou andar na mata e observar pássaros. É assim que meu coração fica mais feliz, quando posso tomar a decisão orgânica para meu dia… Não me vejo separado da natureza, faço parte dela e seu ritmo é também o meu.

Sou Jorge Alves da Silva Ferreira, filho de nordestinos.

Meu pai, José Ferreira, e minha mãe, Carmelita Alves da Silva, são nascidos e criados em Pernambuco, filhos de agricultores, e há 30 anos migraram para Cabo Frio, no Rio de Janeiro, onde eu nasci. Depois de uma tentativa de retorno para o nordeste, decidiram morar em Paraty.

Nesse momento, minha família se instalou no Sítio São José, no Sertão do Taquari. Meu pai comprou essa propriedade com o sonho de criar os filhos nesse universo da produção de alimentos. Eu tinha apenas cinco anos de idade e meus dois irmãos eram ainda mais novos.

Nossa casa ficava a quase três quilômetros de distância da parte urbana e era preciso andar numa trilha dentro da Mata Atlântica. Por estar distante, não fui à escola, sendo alfabetizado pela minha mãe. Com meu pai aprendi todo o processo da agricultura familiar, eu acompanhava ele no dia a dia das suas atividades, plantando banana, inhame, milho…

Lá no sítio ficamos muitos anos trabalhando com produtos para comércio, como banana, inhame e café. E, em menor escala, tínhamos os produtos para consumo próprio. Sempre tentamos ao máximo produzir o alimento para a família. Fui criado comendo tapioca, biju, farinha… Tudo produzido ali mesmo e por nós. 

Foi depois de uma crise financeira, principalmente relacionada com a dificuldade de escoamento dos produtos, que meu pai teve contato com um tipo de agricultura diferente, a agroflorestal. Passamos de produzir focado no comércio para escolher o quê e como cultivar, de maneira mais harmônica com a floresta e com maior autossuficiência. 

De Jorge Ferreira a Jorge Forager

Foi nessa época que meu olhar para a natureza se aguçou ainda mais e fui criando uma nova relação com meu entorno. Eu comecei a buscar na floresta espécies que eram interessantes para nossa alimentação e sem saber estava entrando no universo do forager, de coletar na natureza. Aprendi na prática sobre as PANCs e plantas medicinais – aliás, muitas vezes o alimento e a medicina são a mesma coisa. Como eu já tinha interesse em botânica (naquela época nem sabia que se chamava assim!), me dediquei a estudar todas as plantas que eu pudesse e me especializei nisso.

A combinação entre sistema agroflorestal, coleta de alimentos na floresta e uso medicinal das plantas foi consolidando em mim uma visão de mundo. Percebi o ser humano como parte integrante da natureza e senti a necessidade de criar outra relação nossa com o entorno, com mais conexão, respeito e sinergia. Vi que podemos estar e nos beneficiar da floresta de maneira sustentável. 

Em qualquer bioma que eu esteja, eu olho ao redor e vejo tantas possibilidades na biodiversidade. Vejo alimento, vejo cura, vejo sabores, vejo pigmentos, vejo odores… E isso que conhecemos apenas uma parte pequena de todo potencial que há na mata! Tudo isso me fascina e me motiva demais. 

Busco sempre estar presente em cada instante, trazendo atenção, intenção e intensidade para minhas ações. Vivenciar e compartilhar sabores, aromas, sensações e conhecimentos. Nesse universo apaixonante, me encontrei e encontrei, não apenas uma profissão, mas uma forma de viver a vida.  

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